sábado, 18 de setembro de 2010

“UMA VIDA E MUITAS MEMÓRIAS” Katia Beber Savoldi




“UMA VIDA E MUITAS MEMÓRIAS”

Em meados de 1920, a Fazenda Laranjeira, hoje denominada Distrito de Planalto, concórdia, Santa Catarina, era dominada pelo mato e, para adentrar, meu pai, um gaúcho de Guaporé, com 10 anos de idade, conta que sua família teve que abrir caminho com foices e machados. Depois de terem roçado um grande pedaço de mato, fizeram um barraco de taquaras para se acamparem. A companhia, chamada Colonização Muchilin era dona desse local. Então, meu bisavô comprou duas colônias de terras e ali começou a plantar milho, feijão, arroz... e tudo o que a família necessitava para viver.

Em 1934, Concórdia se tornou município. Meu pai contava que com o surgimento da Sadia, em 1944, a cidade começou a crescer e a receber pessoas de vários estados vizinhos. Assim, o espaço foi se modificando para que o progresso pudesse acompanhar e hoje minha cidade conta com 74 mil habitantes.

Em 1953, eu nasci e comecei a construir a minha história.

Dessa forma, uma lembrança saudosa que carrego em minha mente é do casarão antigo, com sobrado, onde morávamos, uma escada bem alta alcançava a porta da cozinha e da porta dava para perceber como nossa casa era grande e como eram aconchegantes nossas camas com colchões de palha e travesseiros de pena. O banheiro era uma patente, nosso chuveiro uma torneira adaptada em um latão preso num palanque próximo da casa. Assim, jogava-se a água dentro daquele recipiente e abria-se a torneira para se lavar.

Aos oito anos comecei a freqüentar a escola, que era muito diferente de hoje... Se não obedecíamos a professora, tínhamos que ficar de castigo, ajoelhados em sementes de milho ou tampas de garrafa, ou ainda, levávamos varadas nas mãos e puxões de orelha. Não tínhamos caderno, então escrevíamos num quadro com giz e depois apagávamos.

Daminha infância, lembro-me também das brincadeiras: pega-pega, esconde-esconde, caçar passarinho com bodoque, os carrinhos feitos de madeira que meu amigo João ajudava a construir, pois ser o mais velho da tropa. Já, as meninas brincavam de boneca com as espigas de milho ou com as bonecas confeccionadas pela mãe na máquina de costura impulsionada pelo pé. Mas não pense que brincávamos todos os dias; era só nos finais de semana, pois durante a semana tínhamos que ajudar papai e mamãe na roça, pois se não ajudássemos, a “Vara pegava”!...

A noite era uma festa, fazíamos filó na casa dos vizinhos; lá, tomávamos mate e contávamos lorotas. Havia ainda os mais antigos que contavam histórias de visagens; nós nos arrepiávamos, gritávamos e tudo acabava em alegria. Na hora de vir embora dava medo, mas pegávamos nosso “ciareto”, que quer dizer lampião, e seguíamos até nossa casa.

Naquela época, papai visitava a cidade uma vez por mês, a galope com seu cavalo magro. Chegando lá, deixava o animal amarrado no “estacionamento para cavalos”e levava o milho e o trigo no moinho para fazer a farinha e o arroz para descascar. Essa vagem custava um dia.

Lembro-me de como era as saborosas comidas que mamãe fazia no fogão à lenha. Aquela polenta na enorme calheira, o feijão, o arroz e o saudoso vinho, feito por nós mesmos coma uva do nosso parreiral.

A carne era servida somente uma vez por semana e para conservá-la, carneávamos os animais, cozinhávamos a carne num tacho, deixando-a depositada em latas de banha, pois não tínhamos energia elétrica.

O tempo passou, me casei e assim como meu pai e meu bisavô, construí minha família. Hoje sou avô e muito feliz fiquei em dividir com você um pouco da minha história de vida

(Aluna da 6º série da Escola Básica Municipal Romeu de Sisti )

Professora: Liane Maria De Carli Petry

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